“À entrada da aldeia, segundo diz Cide Mamete, viu Dom Quixote que nas eiras do lugar estavam brigando dois meninos, e um disse ao outro: Não te canses, Periquito, porque não a hás de ver em todos os dias de tua vida. Ouviu Dom Quixote, e observou a Sancho: - Não notaste, amigo, o que aquele menino disse: “Não a hás de ver em todos os dias de tua vida”? - Pois bem – ponderou Sancho. -- Que importa que o haja dito esse menino? - Quê? – replicou Dom Quixote. – Não vês tu que, aplicando aquela palavra à minha intenção, quer significar que não verei mais Dulcinéia?”. Miguel de Cervantes, Dom Quixote os olhos os olhos nunca olham o que vêem, apenas retêm o desejo do que não podem apreender, entre si-vendo e o visto-olhado, perscrutam o impossível do distante tornado mais que perto, tornado o olhando, o que vê, como se quisesse uma integração entre sujeito e objeto, como se quisesse tornar-se todo corpo, todo matéria. a cegueira dos olhos não reside no que não podem ver...
“O fato de Balzac ter sido forçado a ir contra as próprias simpatias de classe e os seus preconceitos políticos, o fato de ter visto o fim inelutável de seus tão estimados aristocratas e de os ter descrito como não merecendo melhor sorte e o fato ainda de ter visto os verdadeiros homens do futuro no único sítio onde, na época, podiam ser encontrados, tudo isso eu considero como um dos maiores triunfos do realismo e uma das características mais notáveis de Balzac”. Friedrich Engels, 1888