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Mostrando postagens de dezembro, 2007

natal

a noite respira um murmuro suave a atmosfera alada escorre da pintura as casas, os prédios, as nuvens, o macio ilimitado no verde difuso de uma forma árvore, e um cão que não vejo, um menino e uma menina, na fome de fome de fome de nome o nome menino não come sobrenome, pois a sobremesa da casa em seus dentros de dentros de dentros não entro a menina no menino nem eles nos mesmos meninos sem fome, saciados de vontade de não comer na colher de rios, piques, pastos, ruas, vadiagens, chuvas, sóis, libidinagens, safadagens, aberturas abertas que pedem não infame fama, mas famintas clareiras a partitura de uma pintura feliz onde as cores na cor absoluta de sua não-parte ama arte de viver, aqui, ali, acolá, onde a noite leve acaricia a lonjura que recusamos de tanto comer sem nome, o sobrenome da falta de fome, e uma voz, sua música pouco ouvida, de outro lugar, e os passos, seus um pé e outro pé, e pé pé pé, esquerdo direito esquerdo, com um jeito-só-seu-de-conversar com outros

AMOR

um amor me pegou, tão estranho amor , tão-desalmado, tão-outra-coisa, que me levou sem mim, pra um lugar distante-aqui, que explodi-implodindo, e estava tão disperso em minha concentração distraída de mim, que me arremessava a favor do abismo raso de cair, sempre, sempre, dentro de um outro fora, voando ao caos, ao leu, desencontrado, por aí, o amor não é dor, dor é amar a gente mesmo, o amor é o desespero dos genocidas, das formicidas, o amor, engana-se quem pensa que morria, engana-se quem pensa que enlouquecia, engana-se quem pensa que sumia, engana-se quem pensa qualquer pensamento. o amor é impensável, e me achou naquilo que não existo, e nem posso, existir. o amor é resistir ao ser, é uma impropriedade, um desvio, um erro, um apesar da gente. o amor é o deserto do ego, é habitado por seres mutantes, um amor-fêmea, um amor-árvore, um amor-barata, um amor-verme, um amor-flor, manhã de noites, um amor-vento, um amor-sol, um amor-pedra, um amor-sem-nome, sem sobrenome, comum em sua

As mãos

“nada nas mãos: me disseram que havia uma guerra.” ( Carlos Drummond de Andrade, só tenho duas mãos vazias) minha mão é uma entidade estranhamente próxima, e no seu movimento espontâneo, sem que me detenho, coça a nuca, resvala no sexo, tateia a cabeça do pau, vassoura e escava, com suas unhas, uma caspa epidérmica na sola do pé, e, em riste, projeta o projétil do dedo indicador em direção às crateras do nariz, trocando-o pelo polegar, numa desenvoltura requintada, embora tenha, sem tesão, aprendido, com a educação dos cinco mil sentidos, a não, sem papel, vasculhar o cu, deixando-o só. minha mão abre e fecha, imitando o movimento do coração. no entanto, ela não remete, pelo corpo, o sangue, ela, no seu abrir e fechar tensionados, prende e expulsa o ar sangüíneo do impossível, e logo o, ilusoriamente, recupera, como se segurasse, num jogo inconsciente, e soltasse, futuras apreensões e libertações, ou apenas se lembrasse de passadas contenções ou frustrações materiais e afetiv

salvação

minha saúde é o desespero de saber que a vida é agora e que não tem outra hora, além desta aqui lá fora meu desespero é minha saúde de ver tudo tão perto mulheres, mulheres e mulheres além de mulheres no Matriarcado de Pindorama e ter que conviver com o princípio de realidade a fome, a repressão, a autoridade não e não e não nesse turbocotidiano de dínamos castrados de tédio de futurismos motorizados de ódio de design arrojados das posses de nosso ócio de não realizar o divórcio do opressor com o repressor com o agressor com o sucessor agredido no grito calado, ignorado do oprimido no reprimido no ofendido em todos os trezentos e cinqüenta eu sou trezentos esquisitos esquecidos nos becos dos pesadelos dos ricos meu desespero é meu mal de viver com o normal que sanguessuga a energia de meu pau através dessa incrível solidariedade, insuportável fidelidade, entre as mulheres contra as mulheres a favor de nomes que distribuem fomes nas bocas auditivas desses olfatos tatuados de visõe