“nada nas mãos: me disseram que havia uma guerra.” ( Carlos Drummond de Andrade, só tenho duas mãos vazias)
minha mão é uma entidade estranhamente próxima, e no seu movimento espontâneo, sem que me detenho, coça a nuca, resvala no sexo, tateia a cabeça do pau, vassoura e escava, com suas unhas, uma caspa epidérmica na sola do pé, e, em riste, projeta o projétil do dedo indicador em direção às crateras do nariz, trocando-o pelo polegar, numa desenvoltura requintada, embora tenha, sem tesão, aprendido, com a educação dos cinco mil sentidos, a não, sem papel, vasculhar o cu, deixando-o só.
minha mão abre e fecha, imitando o movimento do coração. no entanto, ela não remete, pelo corpo, o sangue, ela, no seu abrir e fechar tensionados, prende e expulsa o ar sangüíneo do impossível, e logo o, ilusoriamente, recupera, como se segurasse, num jogo inconsciente, e soltasse, futuras apreensões e libertações, ou apenas se lembrasse de passadas contenções ou frustrações materiais e afetivas.
a mão é redundante, pois tem a sua inicial nela mesma, além de inscrever também o M da morte. talvez porque o M de mão e o M de morte sejam também o M de mãe, pois toda mãe é um não transformado em mão, como que indicando que nos cabe, depois de nascermos, usar a própria mão, através do inexorável, da morte, no não do corpo da mãe, como se, com a mão, com M de mão, de morte e de mãe, fôssemos a mão da não morte da mãe, em nós, ou da morte, quando a mãe nos mata, quando nos ata em masturbações e perambulações, pelos furacões românticos de nossas mãos fechadas, em pessoais, caracóis, corações, quando não nos faculta, no incentivo da presença de mãe, a multiplicar nossa mão nas mãos alheias, quando nos confina na solidão de uma mão que não são mãos, impossibilitada que está para cumprir sua potência de mão, que é justamente a sua capacidade de sair de si, mesmo quando no em si masturbatório, pois a mão existe pra friccionar a lâmpada de Aladim, e nos fazer livres para estar ou ficar ou amar ou sonhar com quem quisermos, onde quisermos, como quisermos, já que a mágica talismânica da mão reside na sua propriedade de ser o cérebro fora da cabeça, de ser o coração fora do peito, de ser o sexo fora da enseada púbica, de ser os olhos fora dos olhos, o ouvido fora do ouvido, as pernas fora das pernas, os cinco sentidos sentindo nas digitais dos cinco dedos da palma, alma do pulmão da mão, inspiração e expiração, pois a mão é um lá fora que traz um lá dentro, um longe que traz um perto, a mão são as asas do corpo, a entidade capaz de expandir o mundo em nós; elas são os olhos em estado de toque, pois todos somos anteriores e posteriores a são tomé, uma vez que só acreditamos, depois de visto, tocando a música do toque da mão.
imagino minha mão na mão de minha filha, e penso na delicadeza transcendental desse gesto, ao andarmos de mãos dadas. então deduzo que a saída libertária e paradisíaca da humanidade, seu jeito de transfigurar o M de morte da mão em M de maravilha, reside precisamente na multiplicação, e no elevar à potência infinita, a propriedade da mão de ser um lá fora para um lá dentro, de fazer-se mãos dadas pelo mundo, de ser a ampliação da minha consciência e inconsciência de mão, pelas brechas e interstícios de meu corpo, de ser mão através de mão, de ser a mão que me alimenta, alimentando uma outra boca, de ser a mão que me banha, banhando uma outra pele, de ser a mão que me veste, vestindo um outro corpo, de ser a mão minha com a mão de minha filha, na mão de outras desconhecidas filhas e filhos, de ser a mão que acaricia a amante feita mão acariciando o rosto do interdito , em função da privatização emocional das mãos, de outras indefinidas e improváveis amantes, de ser, enfim, e em começo, como uma hóstia, a mão a dar, dada, dando, andando, como na teia, a aranha, no soco oco do sufoco, pois a mão resguarda, em si, o véu do inferno e do céu, como fel e como mel.
por isso a mão é feita pra segurar e pra soltar, pra nos mostrar que podemos, entre mãos, voar.
minha mão é uma entidade estranhamente próxima, e no seu movimento espontâneo, sem que me detenho, coça a nuca, resvala no sexo, tateia a cabeça do pau, vassoura e escava, com suas unhas, uma caspa epidérmica na sola do pé, e, em riste, projeta o projétil do dedo indicador em direção às crateras do nariz, trocando-o pelo polegar, numa desenvoltura requintada, embora tenha, sem tesão, aprendido, com a educação dos cinco mil sentidos, a não, sem papel, vasculhar o cu, deixando-o só.
minha mão abre e fecha, imitando o movimento do coração. no entanto, ela não remete, pelo corpo, o sangue, ela, no seu abrir e fechar tensionados, prende e expulsa o ar sangüíneo do impossível, e logo o, ilusoriamente, recupera, como se segurasse, num jogo inconsciente, e soltasse, futuras apreensões e libertações, ou apenas se lembrasse de passadas contenções ou frustrações materiais e afetivas.
a mão é redundante, pois tem a sua inicial nela mesma, além de inscrever também o M da morte. talvez porque o M de mão e o M de morte sejam também o M de mãe, pois toda mãe é um não transformado em mão, como que indicando que nos cabe, depois de nascermos, usar a própria mão, através do inexorável, da morte, no não do corpo da mãe, como se, com a mão, com M de mão, de morte e de mãe, fôssemos a mão da não morte da mãe, em nós, ou da morte, quando a mãe nos mata, quando nos ata em masturbações e perambulações, pelos furacões românticos de nossas mãos fechadas, em pessoais, caracóis, corações, quando não nos faculta, no incentivo da presença de mãe, a multiplicar nossa mão nas mãos alheias, quando nos confina na solidão de uma mão que não são mãos, impossibilitada que está para cumprir sua potência de mão, que é justamente a sua capacidade de sair de si, mesmo quando no em si masturbatório, pois a mão existe pra friccionar a lâmpada de Aladim, e nos fazer livres para estar ou ficar ou amar ou sonhar com quem quisermos, onde quisermos, como quisermos, já que a mágica talismânica da mão reside na sua propriedade de ser o cérebro fora da cabeça, de ser o coração fora do peito, de ser o sexo fora da enseada púbica, de ser os olhos fora dos olhos, o ouvido fora do ouvido, as pernas fora das pernas, os cinco sentidos sentindo nas digitais dos cinco dedos da palma, alma do pulmão da mão, inspiração e expiração, pois a mão é um lá fora que traz um lá dentro, um longe que traz um perto, a mão são as asas do corpo, a entidade capaz de expandir o mundo em nós; elas são os olhos em estado de toque, pois todos somos anteriores e posteriores a são tomé, uma vez que só acreditamos, depois de visto, tocando a música do toque da mão.
imagino minha mão na mão de minha filha, e penso na delicadeza transcendental desse gesto, ao andarmos de mãos dadas. então deduzo que a saída libertária e paradisíaca da humanidade, seu jeito de transfigurar o M de morte da mão em M de maravilha, reside precisamente na multiplicação, e no elevar à potência infinita, a propriedade da mão de ser um lá fora para um lá dentro, de fazer-se mãos dadas pelo mundo, de ser a ampliação da minha consciência e inconsciência de mão, pelas brechas e interstícios de meu corpo, de ser mão através de mão, de ser a mão que me alimenta, alimentando uma outra boca, de ser a mão que me banha, banhando uma outra pele, de ser a mão que me veste, vestindo um outro corpo, de ser a mão minha com a mão de minha filha, na mão de outras desconhecidas filhas e filhos, de ser a mão que acaricia a amante feita mão acariciando o rosto do interdito , em função da privatização emocional das mãos, de outras indefinidas e improváveis amantes, de ser, enfim, e em começo, como uma hóstia, a mão a dar, dada, dando, andando, como na teia, a aranha, no soco oco do sufoco, pois a mão resguarda, em si, o véu do inferno e do céu, como fel e como mel.
por isso a mão é feita pra segurar e pra soltar, pra nos mostrar que podemos, entre mãos, voar.
Comentários
(Soh p/ constar: vc estah no meu "Favoritos", tah?!)
Amei este txt! E engraçado q ontem eu escrevi um txt em q mencionei a lâmpada d Aladim; ñ publiquei. Vou fazê-lo, mas depois.(Adoro essas "coidências"!)
Amei este txt!!! Inusitado, mt bom!!!! (Eu ñ sei discorrer a respeito d arte; soh sei do q gosto e do q ñ gosto.)
Luis, fica bem!!! Abração!!!!!!!!!!
Parabéns Poeta
que suas mãos continuem se metamorfoseando... e materializando em versos aquilo tantas vezes desejamos mas não conseguimos expressar.
abraços
re
Não tenho essa criatividade...!!!
Bye!!!
=]
=]
Encharcado de sexo, sim, no entanto mais como pensamento que como ação. Quiça uma incursão do apolínea no dionisíaco. Fantasia na realidade, masculino no feminino e no plural. Enfim, mãos drummond-eustaquianas.
Vale, Le Padre.
Gostei muito do nome do teu blog. Da uma ambiguidade bem interessante.
E sobre esse post: poxa, você esconlheu um assunto a primeira vista simples, mas ao ler o texto percebe-se que é bem mais complexo do que se imaginava. Você sabe usar muito bem as palavras. Gostei muito ;)
Ahhh e ultima frase foi a melhor, resumiu tudo.
beijos ;*
E é exatamente isso que você falou. É Assim que devemos agir, revendo tudo o que fazemos e deixamos de fazer. Se cada um fizesse isso creio que já seria um começo para um mundo com mais paz não? ;)
beijos ;*
Nossa concentração no belo é um estratagema apolíneo. Nisso, o seu "As mãos" se equilibra sobre uma película fina em que nos amontoamos, postando-se entre o sublime e a fealdade daimônica da natureza.
Coisa na mão e mão na coisa, seu texto se inscreve na elegância de uma língua na xoxota.
Aliás, muito elegante seu comentário sobre meu Post DIE BRÜCHE: LE CAP, YBIRAÇU ET LE CARATEC.
Que direi mais? Grato!!!
Vale, sempre.
M de mundo :)
Tudo de bom pra ti!
Cadê, estamos esperando mais!
Abraço! : )
Vou te linkar, tudo bem?
Sempre que pider estarei por aqui ;)
beijos ;**
Com certeza! Não há coisa melhor que sentir o vento no rosto, fechar os olhos e poder imaginar estar voando ou o que mais a sua imaginação lhe permitir ;)
beijos ;**
beijos ;*
Muito obrigada!
Beijos ;***