Pular para o conteúdo principal

sistema de cotas e o medo do lupen do operariado

Começo dizendo que não escrevo este artigo como Professor da Universidade Federal do Espírito Santo, embora essa condição seja inevitável. Por conseqüência, os argumentos que tecerei não têm a pretensão de representar nem a instituição em que trabalho, nem ao Departamento de Línguas e Letras, do qual estou chefe, atualmente.
Simplesmente quero dar meu testemunho de pai de uma criança, com 12 anos de idade, e que desde o pré-escolar estudou na Rede Pública de Ensino.
Afirmo antes de tudo que minha decisão foi e é Política, e Política com P maiúsculo, porque não está assentada na pequena política de defender os interesses da família, de filhas, filhos, mãe, pai, esposa, esposo; ou, ainda, nessas outras pequenas políticas ligadas igualmente à perspectiva de lutar para garantir condições mais favoráveis aos próximos étnicos, de gênero; e falo simplesmente, nesse caso, das cotas para negros, índios, homossexuais, com as quais, de antemão, concordo, embora pense que também elas, por mais legítimas que de fato são, fazem parte da pequena política, uma vez que se inscrevem no que chamamos hoje de política de inclusão, dentro de um sistema, o capitalismo tardio em que vivemos, marcado por alta concentração oligopólica, em que a exclusão é a regra e não a exceção.
Um modelo social que torna a própria dignidade humana um privilégio não pode ser objeto de desejo; deve ser radicalmente transformado. Para tanto, a dimensão pública, entendida como o igual direito à moradia, à educação, à saúde, ao lazer, ao direito de criar, no lugar de ser criado, não pode virar um funil em que poucos adquirem, seja lá com qual justificativa for, o direito de exclusividade às suas áreas vips, que, sob hipótese alguma, pode existir.
Assim, novamente afirmo que minha decisão pessoal, mas não solitária, é Política, com P maiúsculo, porque, mais do que nunca, após a onda neoliberal da década de 90 ter seqüestrado as instituições públicas brasileiras, privatizando-as, ou as sucateando, afirmar o público como destino comum é uma decisão Política, por entender que a igualdade, princípio inegociável, não é possível se a rés-pública, a coisa pública, não tendo dono, pertence a todos, independente se a instituição é estatal ou privada.
Tendo em vista o argumento de que o público antecede à dimensão privada, sendo princípio e fim de tudo, saúdo o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFES, pela decisão de, para o próximo Vestibular, garantir o ingresso vertical, porque independente do curso escolhido, de 40% de suas vagas para alunos oriundos de escolas públicas.
Por outro lado, considero equivocado estabelecer um limite salarial para as famílias dos estudantes de escolas públicas, como precondição para legitimar-se entre os 40%, caso obtenham nota para tal.
O limite salarial reforça o segregacionismo, pois não estimula que mais pais, como eu, independente de seu nível salarial, possam colocar seus filhos na Rede Pública de Ensino, além do fato de não investir na percepção de que a dimensão pública é um a prior absoluto, em tempos neoliberais.
Tornar a rés-pública um a priori é desestimular a lógica do apartheid, porque é um convite para que as filhas e filhos das classes médias A,B,C e D possam conviver com as filhas e filhos, verdade seja dita, do lupen do operariado – a maioria composta de negros, porque o capitalismo é racista.
Estabelecer um limite salarial, enfim, é não convocar as classes médias a assumir a dimensão pública, isto é, a enfrentar o seu próprio medo de se tornar também lupen do operariado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

dinheiro antes era pão e circo e o cacete como pão que bate na arte de matar, cão que late, no bode expiatório, a guilhotina no pescoço da soberana plebeica praça hoje é urânio empobrecido fósforo branco e círculo midiático onde tudo é arte que arde, ardil funil fuzil de ícones de artilharias nas edições de armas satelitais contra a praça súdita garras amarras virtuais na Terra carcerária, pois agora a ágora é o planeta campo de concentração planeta palestina, território sem povo e povo sem território, onde bomba é tudo, em tempo irreal, supõe-se, supositório de lunáticas radioativas partículas de envoltórios zumbíticos vivos incendiados incendiários, planeta guilhotinado, enforcado,desmembrado, sacrificiado nos vários seres mortuários, viciados, por plutônicas ontológicas cosmológicas inspeções galácticas de drones drops fotoativos, putativos, objetos mostruários no dentifrício no corpo cabeça sexo estomagado esmagado emparedado avacalhado suicid
no outro lado do front vi a refração das alfabetizadas ciências deus meu vi o engenho e a arte longe dos barões bufônicos das prosódias divinizadas das seis entidades orquestradas como mísseis de calar dos modernos tempos antigos vi o inglês, o alemão, o francês, o italiano, o espanhol, o português vi ideologia humanista nas seis pirâmides escriturais nas bocas dos sacerdotes dos monastérios os latins ministeriais das sagradas letras dos poemas nos boquetes dos iniciados em palácios de elmos lambendo as glandes das poses das correções ortográficas engolindo as porras das sintaxes na ordem das concordâncias nominais engravidados pela garganta profunda dos espectros verbais vi o monumento à barbárie dos hexagramas das teogonias ocidentais vi a bíblia das traduções imperiais na patrística das metafísicas nas pontas do ceu da boca nas palavras dos seres angelicais vi no outro lado do front as girias dos analfabetos poemando os cristais nos banhos ilimitados dos mananciais despoluindo-se da

LUTO

o mundo observa as Reich telas de televisão computação sensação estilização rostificação enquanto Israel se torna cada vez mais o principal anti-semita de si de nós mesmos infernizando irradiando dizimando atomicamente o judaico povo atual: o palestino, tão ao vau como o hebraico povo haitiano somaliano líbio sírio pois todo povo sendo diferente, é igual no laboratório da holocáustica Faixa de Gaza A câmara de gás Do faraó sionismo Impõe o milenar êxodo aos judeus palestinos Sob a proteção do nazismo Europeu Estadunidense Oligárquico Enquanto observamos as telas da enganação danação violação manipulação reificação O Hitler Benjamin Netanyahu Mandará matar esta menina Palestina-antes-judaica Yasmin, 6 anos vejam de fora do seu soss-ego pois já mandou matar olhem (de dentro da outrora homo sacer abandonada escravizada hebraica vida nua) sua mãe, Yolanda, calcinada assassinada por fósforo branco olhem lançado