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FELICIDADE

eu sou a felicidade, a alegria, um outro mundo, não este aqui.
sou o encontro do e no desencontro, nada disto: família
nela mesma, marido e mulher por eles mesmos, o rico feliz
de seu estado de ilha, repleto de companhias puxa-sacas,
os responsáveis diretos pela miséria deste mundo aqui,
sou o contentamento, o banquete pra todos, uma outra
humanidade, em que não sejamos nós-mesmos, humanos,
apenas, e em que a promessa, a promessa pros joãos,
pras marias, a promessa nos pedros e nas joaquinas, a
promessa libidinada em cada olho deste planeta aqui,
seja repartida, seja tomada, seja espalhada, não a partir,
mas seja nossa, de cada qual e de todos cada,
e que a felicidade, quando realizada, no amor, no encontro,
na amizade, na fala, na audição, no tato, no sabor, na
imaginação, neste poema, a felicidade seja a mais particular,
a mais eu, a mais singular, por ser a mais pública, a mais
não-eu, a mais total.
eu preparo um poema da bomba atômica:
a fissura plutônica dos núcleos dos prótons dos poucos.

Comentários

Ana Guimarães disse…
Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
E tudo se acabar na quarta feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor

Tristeza não tem fim
Felicidade sim
Tristeza não tem fim
Felicidade sim

(A felicidade - Tom Jobim & Vinícius de Moraes)
CONEXÕES E HETEROFLEXIBILIDADES: PRINCÍPIOS DO RIZOMA EM NO POEMA

O rizoma é heteroflexível pelo primeiro e segundo princípios “de conexão e heterogeneidade: qualquer ponto do rizoma pode ser conectado a qualquer outro e deve sê-lo” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, P. 15). “Eu” e "Nós" dee “Felicidades” também o são. O que seria essa heteroflexibilidade? Associar-se-ia às linhas de territorialização e de fuga por onde se move e se produz o desejo? Poder-se-ia associá-lo aos afetos e ao erotismo? Nesse poema de Luís, sim.

A heteroflexibilidade afetiva, erótica ou estética seria um atributo (não se fala em qualidade) de algo ou alguém inclinado ao diferente que se predispusesse a conectar-se com o mesmo, porém distinto de si? Ou seja, será que o heteroafetivamente inclinado refutaria a conexão casual com o homoeroticamente pendente no momento em que as circunstâncias o favorecessem nos contextos de uma parataxe assindética?

Nesse caso, diriam os taxonômicos arborescentes (estruturalistas): não há aí um grau elevado de bitransitividade afetiva? Não. O que se mostra aí é um princípio rizomático do erotismo: conexão de um ponto qualquer com outro ponto qualquer e cada um de seus traços não remetendo necessariamente a traços da mesma natureza, o que põe em jogo distintos regimes de signo, inclusive estados de não-signos (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 32). Casualmente, energizados pelas ondas eletrizantes de uma cerveja, os afetos na linguagem podem estabelecer múltiplas conexões. Posto que o rizoma, pelos seus quinto e sexto princípios, é destituído de ordem e hierarquia (Op. cit, p. 33), pode-se falar também em homoflexibilidade: aqueles signos a que, inclinados ao mesmo gênero, não se lhes desagradaria a possibilidade casual de intercursos com o diferente, uma vez que o rizoma se define também por uma ‘circulação de estados’.

Nesse caso, as linguagens poéticas (à moda de platôs) as oposições e as identidades) não se filiam necessariamente a gêneros, números a graus, mas a multiplicidades. Em temos de ‘slogans’ e leis, as contradições dos diversos regimes discursivos apontam para isso: diz-se que os postos se atraem, mas também se fala da busca da alma-gêmea. Nem todo oposto é atrativo; nem todo mesmo é repulsivo.

O “Eu poético” de “Felicidades”, ora no singular, ora no plural, manifesta a heteroflexibilidade da linguagem, por meio de um tipo de ‘platô contínuo de intensidade que substitui o orgasmo, a guerra ou um ponto culminante’ (BATESON, apud DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 33).

Vale, Luís, Cabra maaaaacho!!! Mas eu queria ver o paizinho (estruturalista e arborescente) lendo seus poemas. Alopraria... Ou não. Saúde!!!
Rainha do Egito disse…
Salve, poeta, me deixe tirar um naco dessa sua felicidade pra encher de esperança essa minha felizidade antes que exploda a bomba-poema e eu não consiga ver que o sonho não acabou e finalmente se transforma em realidade.
Beijo. aquela do Egito

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