Pular para o conteúdo principal

PêNdUlO

Depois de atravessar o inferno, esse paraíso
Depois de atravessar o paraíso, esse inferno
Depois de atravessar o sonho, esse pesadelo
Depois de atravessar o pesadelo, esse sonho
Depois de atravessar a ação,essa inação
Depois de atravessar a inação,essa ação
Depois de atravessar o novo,esse velho
Depois de atravessar o velho,esse novo
Depois de atravessar o outro,esse mesmo
Depois de me atravessar o mesmo,esse outro
Depois de atravessar a cidade,esse bairro
Depois de atravessar o bairro,essa cidade
Depois de atravessar a fome,essa saciedade
Depois de atravessar a saciedade,essa fome
Depois de atravessar o poema,essa prosa
Depois de atravessar a prosa,esse poema
Depois de atravessar o luxo,essa favela
Depois de atravessar a favela,esse luxo
Depois de atravessar o sim,esse não
Depois de atravessar o não,esse sim
Depois de atravessar o sexo,esse pau mole
Depois de atravessar o pau mole,esse sexo
Depois de atravessar o finito,esse infinito
Depois de atravessar o infinito,esse finito
Depois de atravessar o verso,esse reverso
Depois de atravessar o reverso,esse verso
Depois de atravessar a imanência,essa transcendência
Depois de atravessar a transcendência, essa imanência
Depois de atravessar o antes, esse depois
Depois de atravessar o depois, esse antes
Depois de atravessar o durante, esse passado e esse futuro diante
Depois de atravessar esse passado e esse futuro diante, esse durante
Depois de atravessar o nada, esse tudo
Depois de atravessar o tudo, esse nada
Depois de atravessar a morte, essa vida
Depois de atravessar a vida, essa morte
Depois de atravessar a dor, esse alívio
Depois de atravessar o alívio, essa dor
Depois de atravessar o pecado, essa casticidade
Depois de atravessar o perdão, esse ressentimento
Depois de atravessar o ressentimento, esse perdão
Depois de atravessar a prisão, essa liberdade
Depois de atravessar a liberdade, essa prisão
Depois de atravessar o saber, essa ignorância
Depois de atravessar a ignorância, esse saber
Depois de atravessar o país, esse mundo
Depois de atravessar o mundo, esse país
Depois de atravessar o esquecimento, essa lembrança
Depois de atravessar a lembrança, esse esquecimento
Depois de atravessar a coragem, esse medo
Depois de atravessar o medo, essa coragem
Depois de atravessar a presença, essa ausência
Depois de atravessar a ausência, essa presença
Depois de atravessar o mal, esse bem
Depois de atravessar o bem, esse mal
Depois de atravessar a casa, essa rua
Depois de atravessar a rua, essa casa
Depois de atravessar o amor, esse ódio
Depois de atravessar o ódio, esse amor
Depois de atravessar a noite, esse dia
Depois de atravessar o dia, essa noite
Depois da atravessar a posse, essa despossessão
Depois de atravessar a despossessão, essa posse
Depois de atravessar a amizade, essa inimizade
Depois de atravessar a inimizade, essa amizade
Depois, durante e antes de, não atravessar,
senão através de um lado e de outro,
o pêndulo desse trêmulo passamento,
a travessia atravesso, através do avesso,
o aroma desse café no cá de minha fé
seu sabor exala
no ventre do vento, esse pensamento,
buraco-negro no líquido perdido no transe da trança da trama
da bailarina, esvaindo da xícara, o cheiro cheio de sua acrobacia de
fumaça,
sua alma dança a alegria de meu tormento,
fora do pêndulo,
na inspiração, a cafeína
do tempo,
sorve minhas narinas,
nesse momento
de contentamento
acrobático:
pacto de ilusões
das sensações
de nossas
estações
que podem voltar à prisão dos pólos dos pêndulos
a este estado de sítio e de litígio
de roubar a cafeína, como cafetão e cafetina,
da acrobacia de todas e todos
da vida:
estado de graça
de graça
o prestígio
do direito a um mundo
esquerdo
de religião nos religando
no ópio do pio do vício
do cio:
de nossos
rios de rir
no partir
e no
parir

Comentários

Renata Bomfim disse…
Olá Luis,
parabéns pelo poema de
oscila-contradições.
interessante que como mudam os sentidos com a "simples" inversão da frase... ;o)
abraços
renatA
Anônimo disse…
Sinto-me ainda, de um lado para o outro, acompanhando o movimento do pêndulo...
Nidesca disse…
de alguna forma me recordaste "Alicia a través del espejo".

quizás el quid del asunto no esté en llegar al otro extremo (o quizás sí), sino en el proceso, tal vez sea el recorrido de un punto al otro lo que nos sorprenda y nos ayude a mirar de adentro hacia afuera, y viceversa, para descubir que en el intermedio también hay gracia.

me encantó el juego de palabras, la sensación de movimiento y el zig-zag de polos opuestos que incluso llega a producir vértigo.

saludos
gaivota disse…
depois de tanto "pendular" e de reparar nos resultados que "ziguezagueiam",
vamos inverter o poema!
e tocando os pontos encontraremos tanto,
tanto, que contar...
beijos
Milady disse…
Nossa... quantas idas e vindas... Ainda estou me sentindo meio mareada com esse balanço...

intenso e denso... merece uma releitura...

beijos
Gabriela Galvão disse…
Luis,

fico impressionada c/ o tamaaanhooo do sseus poemas!!! Sim, jah li "poemas-livros". Mas ms assim me impressiono! Am... e este estah bem bom.


Tem mais: vc tb ñ demora tanto a postar qt mts poetas. Tem uns q postam menos d 1x/mês... Ñ eh crítica negativa a eles, mas eh elogio a vc, sim!

Abração!!!!!!!!
Raquel disse…
Depois de ler, reler e adorar!
Beijos
http://sex-appeal.zip.net
http://cara-nova.zip.net
Anônimo disse…
pendulo balança
nunca avança,
passa e repassa
nunca descansa,
não fode
nem sai de cima,
olha e não diz nada,
repete e se repete,
espera paciente
o vácuo sem atrito,
pretende a coroa
do moto continuao
Jacinta Dantas disse…
Caramba,
seu poema me deixa com o coração em ritmo acelerado.
Parabéns. Acho que é assim mesmo na vida. Um ser e não ser o tempo todo.
Um abraço

Jacinta
Tá bem o traçado à la Riobaldo: "Fui e não fui, sou e não sou, estou e não estou." Se bem q tem um momento q os versos mudam a cadência desse pensamento...

Gostei tb do pêndulo acima, q "balança/ nunca avança,/passa e repassa/ nunca descansa,/não fode
nem sai de cima"
rs

Bom, o jeito é a ponta do torturante Band-aid no calcanhar, sem mais... são dois pra lá, dois pra cá!

bJô
layla lauar disse…
Depois de ler este belo poema...mandei o tédio da minha madrugada insone para o espaço. Adorei

beijo
B!ah♥=D disse…
Suuuper poema!!!
Bjo;
=D
Fláh disse…
"rios de rir"

Me encantou!
Gi disse…
Gsotei deste seu balanço.

Vim agradecer a sua visita e palavras deixadas num dos meus cantos. mas não consegui resistir á leitura da sua escrita. Esta e a que está mais abaixo. Muito humana sabe?
Tem sido muito complicada a gestão do tempo nestas últimas semanas por razões de ordem vária. Desculpe o atraso na retribuição da gentileza, volte sempre, é bem vindo.

Um beijo
Dauri Batisti disse…
Gostei do movimento.
Tudo, no entando, se repete depois do extraordinário primeiro movimento: Depois de atravessar o inferno, esse paraíso
Depois de atravessar o paraíso, esse inferno.
'-Kelly Viana' disse…
Oiee,Luis
poema muito fofo..adorei!!
a parte boa e parte ruim da vida..
bjOo!!

Bom Carnaval!
ÓPIO/VÍCIO : PIO/CIO (/=ESTÁ PARA; := ASSIM COMO)

"religião nos religando
no ópio do pio do vício
do cio:
de nossos
rios de rir
no partir
e no
parir" (LUÍS, 2008).

Li poema e comentários...Tendi a ver certa dança das veredas riobáldicas, como as viu a Disguiser. Mas escolhi esse trecho epigráfico só pra pontuar o que o poema ponteia: uma atravessada de Marx e Freud, quando um e outro desprezam o "religare", com suas visões iluministas, não vendo nisso a manifestação de um sonho coletivo. Posto que o ópio está para o vício, assim como o pio está para o cio, numa relação inversamente proporcional, também o "religare" está para o sonho, assim como o id/o mar de tesão que seduz a vigília.

Valeu, Luois.
Nossa pátria é nossa pele.
Vander Macedo disse…
Brilhante! É de uma musicalidade intensa, vertiginosa, desenvolve-se por meio de uma antítese que representa os extremos do movimento de um pêndulo, versos longos, arrastados, em um crescente, até rebentar, como se as palavras até então sufocadas começassem a seguir umas as outras, em versos curtos, rápidos, apoteóticos...
Sinceramente, gostei muito do poema. É por essas e outras razões que muitas vezes encontro mais prazer em fuçar na internet uma boa poesia do que ler o livro de alguns poetas profissionais, que embora adorados pelas editoras, não fazem mais do que repetir uma fórmula gasta, maçante, e sem criatividade.
Luciano DiiDrick

Postagens mais visitadas deste blog

UTOPIA

entoar: amar quixotescas armaduras, de cavalharescas andaduras, de ondas de lábios ávidos de mar, celas cósmicas, de lânguidas mangas éticas, pitangas de árvores de flores de copas, de frondes continentais de amores, sem ilhas de tédios de horrores, ou gols de tiros de mortes, de chutar chuvas de balas de alas, de narcísicos consumos de humos, doces idólatras idiotas, a chupar, a saliva de acusar, pra roubar e pra matar, quando o que é torta, quando a porta da janela que importa, é a de criar o atar as traves aves de retângulo de céus de paraísos de relâmpagos, de infernais mananciais, de invernais verões de rebeliões, por comemorar a cerimônia de vôos de chamas de larvas, de celestiais terrenais viscerais, a festejar pilhas de elétricas usinas, de vitais vitrais campos, sem rivais, a coletivizar os subterrâneos lençóis de águas de sóis, de sedes de redes de girassóis, abertos horizontes cobertos por suores de louvores, nos corpos a corpos, brindes de convites, a desarmar as armas ...

tudo está dito/nada está feito

quis escrever um conto. Os dedos começaram primeiro que eu, digitalizando. então pensei no como os dedos podem digitalizar sem mim, como podem ter memória própria, escrever e escrever-se, assim, como quem escreve e se escreve, a história biográfica da memória testemunhal de um dedo. e o dedo, ou os dedos, começaram a... se... e ficaram com preguiça. passado um tempo, por preguiça de freqüentar outros ofícios, de fazer outras coisas que tinha que fazer, naquele momento depois agora, depois daquela outra preguiça, entrei finalmente neste arquivo e vi o texto aqui inacabado, pensei que talvez já pudesse estar ou ficar inacabadamente pronto ou prontamente inacabado se apenas deixasse ele, este aqui, acabar no ficaram com preguiça, mas os dedos começaram a recuperar a sua memória digitalizante e começaram a escrever novamente, e escreveram até aqui, até aqui, até aqui, até aqui, não vou dizer mais até aqui, pra não enjoar o leitor, e foram escrevendo até aqui porque eram dedos e dedos n...

Deus

Deus é puro sexo E tem o gozo do universo Com seu falo vaginado Penetra e é penetrado Pelo cosmológico Devaneio de amplexo Sua transa etérea De buraco negro de verso Suga e transfigura A ilusão de ser matéria Que lubrifica e infla A vida de vidas O infinito de finitos As polipresenças De ausências.