as digitais de sua fome percorrem a solidão, as nossas, de auroras de encontros, de vitaminas de abraços, de proteínas de sonhos libidinais, sociais, espaciais, faciais, amais percorre a solidão de sua fome as digitais de sua solidão, a fome é o nome o nome é a fome de nomes, no homem, a fome no estômago dos afetos do mundo não tem fim a fome nos mata nos massacra, nos ataca, nos emplaca, nos desata, nos ata, nos, a fome nos estômagos dos olhos, nos estômagos do sexo, nos estômagos dos ouvidos, nos estômagos da boca, nos estômagos dos lábios, nos estômagos da pele, a fome nos estômagos do coração a fome na miséria. a miséria é o estômago de todas as outras fomes. a fome parte de um lugar, tudo parte de um lugar, um corpo, uma sensação, uma podridão, uma sacanagem, tudo parte de um ponto, o ponto é a viagem. a viagem é o ponto aberto ao infinito do ponto de onde se parte. a parte é a sinergia da não parte. a parte é arte é ar de outros ares. não há parte, não existe o ar da arte a arder em arte apenas como parte. não existe o coletivo o indivíduo o estômago vazio é a pior pilantragem, a pior paragem, o mal o mal o mal o nome do mal no vazio do estômago a fome é a alegria, é a sinestesia, é a putaria, a bastardia, a dançaria, a musicaria, o abraçaria, o cantaria, a poesia a mania, a fome é o começo do nome o nome do começo o nome que come todos começos . a fome é a vontade de além a partir do aquém, a fome é órfica, vai aos infernos pra chegar aos céus, a fome é inversa pra ser reversa, é dentro pra ser fora, é víscera pra ser cérebro, é cu pra ser boca, é sangue pra ser mangue pra ser ecossistema de langues voragens de paradisíacas soltagens livres em asagens, das asas dos sentidos e das massagens da viagem dos corpos sonhagens, das almas montagens das montanhas sondagens de viver saudades de saciagens de encontros e vadiagens, a fome de é o maior o mais gigantesco, o mais inominável, o mais pulsante não à morte a fome quer viver quer comer quer foder, quer querer, quer sorver, quer amar o mar de andar, de parar, de colar, de encontrar, de imaginar. a fome no estômago da áfrica nos mostra que o cheio transbordante barbante turbante do norte no norte do estômago dos muitos outros nortes no sul indo e vindo através da lógica excedente, incidente, do ponto fechado da parte arte na arte apenas de si, na alienada arte parnasiana de fazer só arte de comer a carne a alma o minério faz com que os nortes seres aí estão aí pra marte, pra parte, para ser o ser aí forte bravo macho, a faca fálica sanguinária milionária ordinária da morte dos estômagos dos âmagos dos seres aí, sem sorte, nós todos, pois o estômago do mundo no estômago da pupila cadavérica da menina das áfricas, lá-aqui, a olhar a infinita fome em sua infinita finitude faminta dor de fome, a pior dor do mundo!, imunda o imundo raso fundo estômago de todo o mundo, na profunda indiferença moribunda de não saciá-la, acendê-la, vivê-la, protegê-la, a pupila do estômago da menina, a áfrica no estômago de nossas misérias, a comida podre, o enjôo, o vômito, a dor de barriga, a cólera colérica do colesterol do besteirol fedido e fodido e curtido, dos nossos estômagos de falidos viver famintos, nas viradas das festas dos ritos dos mitos, do estado de exceção, a favor do estado de sítio, contra o invisivelmente visível gritos dos aflitos.
é a cínica alegria daqueles que não amam, porque não têm fome de pegar o trem, o trem, o trem, tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome, o trem descarrilado de outrem, que já vem que já vem que já vem, dentro-fora das fomes nos nomes de nós
também
vem
revém
retém
a comida dos que não têm
no estômago da festa do aquém
quando o nome da fome no homem
sem ser mais refém,
da fálica faca da fome, no abdômen,
nos fará então nascidos, sempre recém.
é a cínica alegria daqueles que não amam, porque não têm fome de pegar o trem, o trem, o trem, tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome, o trem descarrilado de outrem, que já vem que já vem que já vem, dentro-fora das fomes nos nomes de nós
também
vem
revém
retém
a comida dos que não têm
no estômago da festa do aquém
quando o nome da fome no homem
sem ser mais refém,
da fálica faca da fome, no abdômen,
nos fará então nascidos, sempre recém.
Comentários
e quem sabe, em algum dia ela some
e você escreve um texto tão belo quanto esse
sobre a Africa contente
E mais um texto seu que me leva a leituras múltiplas. Li pela manhã - quando ainda estava no trabalho, li um pouco depois e agora novamente. Provavelmente, voltarei a ler e reler. É uma capacidade de unir dor e felicidade e sexualidade e humanidade gigante essa sua. Só um trem mesmo - engolindo vento e fazendo arte. Você é assim. E há sensação mais prazerosa do que a exaustão que chega após escrever um texto assim? Eu sinto como se algo tivesse nascido - um filho. Tanta fome em escrever e você nos traz tão perfeito trabalho.
Agradeço por pensar em me enviar o livro. Espero que o lançamento tenha sido ótimo e também, que bons olhos enxerguem seu escrever. Deixo meu email - se puder me enviar o seu, passarei meu endereço.
Bjs e abraços.
Letícia
leticiapalmeira@hotmail.com
O texto arrasta-nos numa sofreguidão faminta e mesmo quando o tentamos reler com mais calma, é tarefa difícil!!
Infelizmente , estou deste lado do oceano e não poderi aceitar seu convite, mas desejo um óptimo lançamento de seu livro e muito êxito!
Abraço.
Bom resto de Domingo.
Muito obrigada por partilhares, além mar e fronteiras, as belissimas palavras que escreves!
Beijinhos e até breve
;O)
Magnífico seu texto.
Um abraço.
Ave Poesia!
teu texto é uma cascata de palavras, de imagens, de sensibilidade.É uma chuva de sensações que nos fazem rojar pela arte de tua fome:tua escrita...tua poesia, tua prosa. Ao terminar de ler estamos estonteados de admiração. Maravilhoso post!
Foi ótimo te ver lá no baú.
Beijos, Ilaine
Acho que estamos com fome, também, de humanidade, de simplicidade, de
beleza, de autenticidade...
Gosto de me "embaralhar" na leitura que faço quando venho aqui. Faço um movimento de ondas com os olhos e o pensamento. E isso é bom!
Abração
Espero, da porta, a aurora me animar...
Teu texto me causou tais palavras, mestre...
Grande abraço!
Germano
Aparece...
Olha meu amigo, a boca do estômago da nossa alma é um saco sem fundo!
abraços
rê
Belo texto.
Gostei da fome sendo expressa como um desejo de vida, diga-se de passagem, um desejo visceral, instintivo, intenso, pulsante. E poucos estilos são tão bons quanto o seu para descrever essas facetas psicológicas, sociais, sexuais desse desejo irresistível que é a fome, com a sua maravilhosa característica de lançar o leitor, com rimas simples, de uma palavra à próxima, de uma idéia a outra, incessantemente, sem permitir que ele pisque os olhos até que termine de ler o texto (isso se conseguir resistir a fome de uma releitura).
Abs
Beijos
http://sex-appeal.zip.net