Pular para o conteúdo principal

vaga-lume

vejo o rosto da rosa,
em aclamação vaporosa,
no estômago dos olhos da infância preciosa
rosa de rosto que precede toda ordem institucional
por ser antes de qualquer juiz ou foro ou tribunal
por ser o antes do antes,
a justiça pros injustiçados
os povos ovos do mundo,
todos os mortos no decorrer
da farsesca tragédia burlesca
da humana ilhada vomitada história,
os constelares ovários ovos do mundo,
dos passados, dos presentes e dos futuros,
famintos de danças de cantos de pujanças,
os ovos vôos de mundos de entôo:
acusemos de crime inafiançável,
com prisão perpétua,
e trabalho forçado,
e reeducação psicológica,
porque crime algum é individual,
acusemos a administração Clinton,
como sismo sintoma parasitário
de qualquer império
de espertos belicosos otários
acusemos,
a partir de 1993,
de:
1. Bombardeio no Iraque
2. Assassinato de milhares de somalis
3. Plano Colômbia:
Nove anos depois, Colômbia é a principal fornecedora de cocaína e heroína pros EUA
4. Operação Tormenta de Croácia: urânio empobrecido e epidemia de casos de câncer
5. Ataque com mísseis de cruzeiro contra Afeganistão e Sudão
6. Operação Raposa do Deserto, mais iraquianos mortos
7. 78 dias de ataque da Otan contra Yuguslávia
8. Modelo de exportação: petróleo, armas, drogas
9. Colômbia, Kosovo, Iraque

eis que anos depois, a senhora Clinton, como secretária de Obama, na democracia dos déspotas fascistas,
sorridentes
inteligentes
previdentes
a administrar o estado geral das energias vitais,
os infinitesimais nomes-vida, em ecossistemas plurais
pra vampirizar os glóbulos vermelhos comunais
dosificando mortes
pra melhor rentabilizar
egóticas punhetas de incestos ancestrais
na penetração estupradora, on-line,
nas contas góticas de coisificação
que nada mais são que táticas
de extenuação
de apart-ação
de emigração
na migração
nesse exílio de murros
subjetividades de muros
metamorfoses de putrefação
amores em apuros,
choro de chorumes
pois o complexo industrial-militar
da besta americana artilharia de matar
ou da vespa ferroada de oligopólios venenos
de eliminar
inclusive o comum americano a vicejar
ou a pretender
visto que não existe inimigo mais letal
hoje mais do que nunca
do americano mesmo, como um de nós,
igual
que os abutres zumbis sem Palmares
a caçar as almas de palmas palmeiras
sanguessugando libertárias palmas de mares
a partir de seus altos altares
de impessoais democracias de palmatórias
contra tudo que respira outras histórias
porque são abutres
com o perdão do abuso no uso em vão
de tão nobre lúgubre ave necessária:
os urubus
porque são abutres
as hierarquias das oligarquias
epicentro dos despojos de nojos
no império das técnicas de extermínio
aos brilhantes olhares de fascinantes fascínios -
os poros gês-tálticos
de gozos gês-fálicos
em gês-líricos lírios delírios de sêmens
gês-rítmicos
ao escrever o ver de conter
pontos gês-sísmicos
no mais-gozar de escrever o escrito
escrevendo-se
anterior à gramática
à metáfora
fora da metonímia das pantomimas
longe de qualquer dizer que seja o dito
no nome do que é nomeado
árvore pra árvore
sem o arvoredo de verdejantes enredos
ou solo pro chão
sem o sol na multidão de girassol
porque não tem árvore no nome árvore
se no dentro do dentro no dentro
as entradas e as saídas
não sejam o fora do fora do fora
em desforra
à força da forca
ao mortal
nome
não

ao lume
do vaga-lume

Comentários

Sueli Maia (Mai) disse…
Pichar e dar luz e vem sombra e vem luz. E a poesia não apaga os horrores mas a arte poética nos ajuda a suportar tudo isto.
Vaga-lume e os que vagam, são estes, senhores da fome e das guerras.
Vaga-lume é a magia de uma criança correndo atrás de uma luz e querendo deter essa luz, num canto qualquer.

Este é o teu espaço, Luis, luz e pichação ao que é devido.

Abraços, amigo.
Rainha do Egito disse…
gosto particularmente da sua poesia, uma poesia que provoca e tira a gente do sério, que faz pensar se não estamos deixando de intervir, como deveríamos, nessa realidade que violenta e destroi os traços de humanidade. os oprimidos agradecem. que venham mais e mais versos ... bj
YvyB disse…
Luis,sua criação é épica,trágica.
Uiiiiiiiiiii, me assusta caro poeta. "Oiá eu cum medo d'ôce"

bjs Eu
Renata Bomfim disse…
Olá Luis,
tudo certo?
Há diálogo entre a beleza e o horror, ou uma se impõe a outra? bem, acho que, de certa forma, no teu poema dialogaram... seu texto me recordou a rosa de hirochima...

saudades suas
um abração da amiga
Renata
Ilaine disse…
Ah, amigo!
Sempre tão fortes teus poemas.
Poesia em palavras garrafais.
Poesia em manchetes.
Pichação de tanta realidade.
Poesia tão tua, tão Luis.

Abraço com carinho

Postagens mais visitadas deste blog

UTOPIA

entoar: amar quixotescas armaduras, de cavalharescas andaduras, de ondas de lábios ávidos de mar, celas cósmicas, de lânguidas mangas éticas, pitangas de árvores de flores de copas, de frondes continentais de amores, sem ilhas de tédios de horrores, ou gols de tiros de mortes, de chutar chuvas de balas de alas, de narcísicos consumos de humos, doces idólatras idiotas, a chupar, a saliva de acusar, pra roubar e pra matar, quando o que é torta, quando a porta da janela que importa, é a de criar o atar as traves aves de retângulo de céus de paraísos de relâmpagos, de infernais mananciais, de invernais verões de rebeliões, por comemorar a cerimônia de vôos de chamas de larvas, de celestiais terrenais viscerais, a festejar pilhas de elétricas usinas, de vitais vitrais campos, sem rivais, a coletivizar os subterrâneos lençóis de águas de sóis, de sedes de redes de girassóis, abertos horizontes cobertos por suores de louvores, nos corpos a corpos, brindes de convites, a desarmar as armas ...

tudo está dito/nada está feito

quis escrever um conto. Os dedos começaram primeiro que eu, digitalizando. então pensei no como os dedos podem digitalizar sem mim, como podem ter memória própria, escrever e escrever-se, assim, como quem escreve e se escreve, a história biográfica da memória testemunhal de um dedo. e o dedo, ou os dedos, começaram a... se... e ficaram com preguiça. passado um tempo, por preguiça de freqüentar outros ofícios, de fazer outras coisas que tinha que fazer, naquele momento depois agora, depois daquela outra preguiça, entrei finalmente neste arquivo e vi o texto aqui inacabado, pensei que talvez já pudesse estar ou ficar inacabadamente pronto ou prontamente inacabado se apenas deixasse ele, este aqui, acabar no ficaram com preguiça, mas os dedos começaram a recuperar a sua memória digitalizante e começaram a escrever novamente, e escreveram até aqui, até aqui, até aqui, até aqui, não vou dizer mais até aqui, pra não enjoar o leitor, e foram escrevendo até aqui porque eram dedos e dedos n...

Deus

Deus é puro sexo E tem o gozo do universo Com seu falo vaginado Penetra e é penetrado Pelo cosmológico Devaneio de amplexo Sua transa etérea De buraco negro de verso Suga e transfigura A ilusão de ser matéria Que lubrifica e infla A vida de vidas O infinito de finitos As polipresenças De ausências.