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descentramentos

centros concentram
estupram mundos
centros de mim
de ti,
sem jabuti
sem javali
sem índio guarani
humilham submetem assassinam
por lá, por aqui, por aí,
floras faunas inorgânicos
rasos fundos rios vulcânicos
centros de posse sanguessugam
os órfãos de órgãos de pão
através dos centrais monumentais
vampiros dentais
famintos suspiros
de Deus
de Midas
de mídias

centros centram roubos
arroubos que arrombam
raios concêntricos
aços abraços de morte
cercam tudo que não é
nem sul e nem norte
tudo cuja direção
é pura sorte
é sem correção
sem circuncisão
sem adaptação
sem sujeição
porque descentrados
insubordinados
são

pois descentrar
é revolucionar
o centro dentro do centro
até desconcentrar o centro
de homens
de humanidades
e seus centrais pedestais
sem mais umbrais
fenomenais
e outros que tais
pois descentrar
é um vendaval de vaus
de naus no liso mar, amar,
sem centros ciumentos pelo ar,
sem fomento de egos, cimentos
pois perder o centro dele mesmo
é o verdadeiro terráqueo pensamento
que tira o céu do centro,
seu firmamento
porque um centro é sempre centro
de outro centro,
centrismos
o centro seu
é o mesmo centro meu
é o mesmo centro americano, judeu,
do castigo aplicado a Prometeu
o centro que doi, doerá, doeu
quando rezamos o que nos perdeu
pois nada nos perde,
ou nos escafedeu
a não ser o que em nós fedeu
que é o nós em nós,
que nos fodeu
de tanto ser a gente mesmo,
se esqueceu
de lembrar que nada nos pertence,
pertenceu ou é meu,

é a morte que nos requereu
quando o centro nos remeteu
ao desejo de posses,
nos submeteu
e possuídos ficamos
ao que nos deu
as cobaias de eu
pois o eu é uma covarde cobaia
a esperança de nós mesmos
que nos sorveu
os centros que nos comeu
e nunca nos absolveu
o centro dos centros, amém,
sem que sejamos Orfeu
de nós mesmos
nos absorveu
pois o centro é uma esponja
um umbigo de pança, que esbanja
centros de despóticas pujanças
que é o mesmo centro da seriedade
que é o mesmo centro da identidade
que é o mesmo centro da subjetividade
que é o mesmo centro da publicidade
que é o mesmo centro da racionalidade
que é o mesmo centro da bestialidade

e o centro do cínico
é o mesmo centro do rico
que é o mesmo obsceno centro
da cena da repressão dos milicos
que é o centro do cetro
por isso de nada adianta
destronar o cetro do centro
da verdadeira mentira
se não é destronada
a mentirosa verdade
de nada adianta destronar o centro
da ditadura
do terrorismo
do autoritarismo
se não acabamos
com o centro de hipócritas
americanas e européias
democracias teatrais
cujos centros
são colonialismos
que inventam profusão de ismos
com os seus
eurocentrismos
etnocentrismos
anglocentrismos
dólar-centrismos
armas-centrismos
língua-centrismos
estilo-centrismos
de centros de cetros
que sempre,
como sempre
nos tempos e tempos
ecoam o amém
de um Deus além

pois o cetro de Deus
é profusão de imposição
de centros
tal que percebemos
que o centro do déspota
ou
do cassetete
ou
da catequese
é a central
a sempre mesma cena final
em qualquer fita cassete :
- ou outra mais atual -
a cena fatal:
do centro e seu cacete:
cacetecentrismo
letal

Comentários

lula eurico disse…
Mestre De La Mancha,

das pa/lavras demolidoras, centrífugas;
marteletes de um re/volucionário re/pensador.

Abç
Dauri Batisti disse…
Da margem sinto o puxão, é puxão nunca leva ao centro, faz espatifar-se ao chão...

um abração
Jacinta Dantas disse…
Descentralizar
descapitalizar
desfazer
o que centraliza
o poder
de centralizar
poder
angústias, roubos, deboches...

Ah que eu me sinto desconcertada por aqui.
Um abraço
M. disse…
Poesia militante...Bela na forma...Poetica no conteúdo...

Discutível na realidade:)

Gostei.
Coral disse…
vc está certo: ao invés de Deus, deuses

politeísmo ao invés de mono-Centro-teísmo

"Sê plural, como o MULTIverso"
lis disse…
Obrigada pelo comentário e presença.
Fiquei fã da poesia quase "letal" rs
abraços
layla lauar disse…
ai pobre de mim que nunca fui uma pessoa "centrada", portanto me perdi inteira no meio de tantas rimas...resumindo: não sei comentar o seu poema-protesto...só sei dizer que o achei interessantíssimo e inusitado.

beijo
Espaço do João disse…
Grato pela passagem em meu espaço.
Francamente gostei da sua poesia. Ser poeta é saber dizer aquilo que só os poetas sabem dizer.

Passarei a seguir este magnífico espaço.
Um abraço amigo.

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no outro lado do front vi a refração das alfabetizadas ciências deus meu vi o engenho e a arte longe dos barões bufônicos das prosódias divinizadas das seis entidades orquestradas como mísseis de calar dos modernos tempos antigos vi o inglês, o alemão, o francês, o italiano, o espanhol, o português vi ideologia humanista nas seis pirâmides escriturais nas bocas dos sacerdotes dos monastérios os latins ministeriais das sagradas letras dos poemas nos boquetes dos iniciados em palácios de elmos lambendo as glandes das poses das correções ortográficas engolindo as porras das sintaxes na ordem das concordâncias nominais engravidados pela garganta profunda dos espectros verbais vi o monumento à barbárie dos hexagramas das teogonias ocidentais vi a bíblia das traduções imperiais na patrística das metafísicas nas pontas do ceu da boca nas palavras dos seres angelicais vi no outro lado do front as girias dos analfabetos poemando os cristais nos banhos ilimitados dos mananciais despoluindo-se da

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