tem quanto tempo que não faço um poema, nem sei. estarei cansado de minhas aliterações, de meus jogos de palavras, que bobagem, você talvez finalmente esteja ficando velho, se rendendo à moral burguesa das boas maneiras de escrever um bom poema. você sempre escreveu como um pobre , um faminto jogando, fazendo aliterações, misturando, misturando não, que é pouco, e você poderia estar dizendo agora, é rouco, é mouco, como já fez alhures, em cores vadias por aí, mas não, você não diz, não dirá. Então, se não é misturando tudo com tudo, como você faz o que não faz. E você dirá, me deu vontade de escrever um poema fazendo o baixo-ventre, as vísceras, o sexo, tudo isto que fica debaixo, que me faz ser o que sou não sendo, sendo muito mais, um animal humano, que come, que caga, que sente dores de barriga, de rins, e que fica de tesão. Este lugar do baixo-ventre, aqui, olha, estou tocando nele, este lugar, olha o meu pau, este lugar, está mole, vou mexer nele, penso na mulher que vi na rua, que bunda, sim, que bunda gostosa, a vadia, e me concentro, está vendo, agora está ficando duro, olha eu me masturbando, tá vendo, aqui está você?, animal libidinal, heterossexual, não tenho medo de dizer, tornou-se incorreto dizer-se hetero, e poderia e não sou, não estou, não vou, poderia ser homo, bi, poli, e estou hetero, e espero ser heteros, espero estar alter-sexuais, sendo heteros, e agora este animal libidinal que sou, olha, se quiser, com tesão, voraz, como dizia o lezama lima, voracidade complementária, aqui você é voraz por baixo, e você pensa no poema, no poema não, que isto de ser poeta, de fazer poema, a aura disto tudo, isso é uma palhaçada, né, de poeta que acha que ser poeta é ser, por si só, diferente, um modo único de viver a experiência de viver a escrita do mundo, bobagem, tudo bobagem, parnasianismo, com outros nomes, vanguardismo, anarquismo, modernismo, pós-modernismo, simbolismo, você está com tesão, está pensando na mulher que viu na rua, meu deus, que bunda, a sacana, e você escreve assim, pela parte de baixo, com a voracidade complementária devorando e se completando, de baixo pra baixo, da terra ao céu, do baixo-ventre ao cérebro, das américas, do rincão da África, aos centros de poder do norte rico, você vai fodendo, não como quem está estuprando, nada disto, você vai fodendo gostoso, bacana, com fome, e com tanta mais fome quanto mais sacia a fome de baixo com a desse outro baixo, baixinho, e você não faz poesia assim, como diria, você não faz assim como escreve um poema, você faz a parte animal sua, onde seu corpo é mais corpo, e é , por ser corpo, mais voraz, e é, por ser voraz, mais frágil, vulnerável, delicado, sim, apesar do pinto duro, durinho, está vendo?, apesar dele assim, ele pode ficar mole num instante. Nada mais vulnerável que o tesão, nada mais mortal. O tesão é a metonímia da vida, sua epifania, seu talismã, seu fetiche, seu totem, seu valor de uso confundido com o seu valor de troca e vice-versa, num gozo indefinido de mais-valia de tesão que leva a tesão que leva à vida que leva ao tesão, a parte sendo toda, um pedaço de laranja a laranja toda, mas é mais que isto, o tesão, para vida, e o tesão é frágil, vulnerável, como a alegria, como a bondade, como a solidariedade, a solidariedade não, bem mais que ela, como a capacidade de estar o outro, sendo a gente mesmo, sei lá, é frágil, fragrância, por isso tem que cuidar, tem que tomar conta dele, experimentá-lo sempre, deixá-lo viver, afinal, é assim o poema que penso em fazer, simplesmente, o tesão do baixo-ventre da letra complementando, com sua voracidade, o peito, a coragem, a força, para chegar ao centro do cérebro, do pensamento, e, assim, esporrar, lambescar, umedecer, derramar, mesclar, com o meu tesão, com o meu gozo de baixo-ventre, a altitude do pensamento, sujá-la de corpo, de excrescências, assim é o poema, ou a escrita, ou isto aqui que faço, partindo da Idade Média para gozar com o renascimento, escorregando pela pele do barroco, com sua abundâncias e sagradas profanidades, escorregando, assim, até atravessar a fronteira do clássico, ou mais, mais, sim, sempre mais, não o mais pelo mais, mas o mais que vem do menos, que é muito mais porque é muito menos, e porque é muito mais sendo muito menos limpa sujando a casa dos poucos, abrindo suas portas pra putaria geral, sem ser anarquista apenas, e, assim, me vestir como tal, ser o personagem de mim mesmo, e viver o sendo assim por aí, não, que tudo é nosso, tanto o anarquismo como o não anarquismo; você faz seu poema possuindo tudo, sem dó, que tudo é nosso, mas a partir daqui, do meu tesão, buscando as diferenças, de letra pra letra, de sentido pra sentido, de forma pra forma, de sonho pra sonho, de tetra pra tetra, se completando, vorazmente, porque, diferente do oswald de andrade, aqui interessa não só o que não é meu, porque tudo é nosso, mas sim me interessa possuir, não possuindo, o que não é de todo mundo, e você parte daqui, do baixo-ventre, pra possuir os céus, não possuindo, quebrando logo os contrários, céu-terra, pensamento-emoção, alma-corpo, poesia-prosa, morte-vida, abraçando tudo com tudo, finitude-infinitude, pra gozar o gozo de escrever o cosmo todo, dinamicamente, aqui, da sua fragilidade de viver, mas com as outras fragilidades, que somos todos frágeis, nossa suprema alegria: ser forte sendo fraco, ser imortal sendo mortal, ser, não sendo, estar dentro da tragédia e da fatalidade, a vida, e alegrar-se, e dançar, equilibrar-se no desequilíbrio, malabarista de abismos, abismado de estrelas cadentes, festejando a cadência de tudo que seja pulsações de asas ao leu: ocultas evidências, cios, cicios de gozos de galáxias de querências nas (im)parciais ascendêcias, agora, gozadas, sem descendências, é comum palavra que lavra vivências e semeia frutos, futuros, vidências
entoar: amar quixotescas armaduras, de cavalharescas andaduras, de ondas de lábios ávidos de mar, celas cósmicas, de lânguidas mangas éticas, pitangas de árvores de flores de copas, de frondes continentais de amores, sem ilhas de tédios de horrores, ou gols de tiros de mortes, de chutar chuvas de balas de alas, de narcísicos consumos de humos, doces idólatras idiotas, a chupar, a saliva de acusar, pra roubar e pra matar, quando o que é torta, quando a porta da janela que importa, é a de criar o atar as traves aves de retângulo de céus de paraísos de relâmpagos, de infernais mananciais, de invernais verões de rebeliões, por comemorar a cerimônia de vôos de chamas de larvas, de celestiais terrenais viscerais, a festejar pilhas de elétricas usinas, de vitais vitrais campos, sem rivais, a coletivizar os subterrâneos lençóis de águas de sóis, de sedes de redes de girassóis, abertos horizontes cobertos por suores de louvores, nos corpos a corpos, brindes de convites, a desarmar as armas ...
Comentários
Teu tesão não vi. Oh...Vi e li...Disparas para todos os lados, todos os sentidos e até invertes a História...Gosta desta tua manipulação. Mesmo que nas partes moles (em transição efémera para o tesão).
O que foi isto? Consequência de te ler...lol
grande abraço....
(Heloisa Seixas)
vc é punheteiro profissional, hehe
Valeu demais, hombre!!!
Seguindo o fio delicado dessa sua trama voraz, cáustica e irônica, amarrei por minha conta e risco, a américa do sul, isso tudo que fica "do lado de baixo do equador", o "baixo-ventre" de todos e de cada um/a, e nesse traçado de palavras com rimas, sem rimas; doces e amargas; com nexo, sem nexo; explode uma certa urgência criativa, um gozo dispersivo que deveria causar uma consciência coletiva muito mais crítica que a que temos.
Eu só agradeço essa disponibilidade em nos chamar a atenção para o mundo tão hipócrita e de mentirinha que vivemos...
Beijo!