um verme, um vírus e uma horda de bactérias invadiram, peste letal, o corpo do mundo.
o veneno contra o veneno, os anticorpos contra os corpos invasores, o corpo do mundo definhado na uti dos pesadelos virais.
a morte é certa; a vida incerta.
toda medicina, nietzsche dizia que a arte é medicina, toda ela buscava a cura: inutilmente, embora acreditassem na globalização justa, num sistema de inclusão, nos estudos culturais, na ong contra fome da praga, insaciável, na poesia de papel (esta ), na alegria ilhada.
o hermético segredo contra tal incontrolável mal, alguns muitos o chamavam de inevitável, e diziam que era preciso adaptarmos, pra não ficarmos de fora, estava precisamente no fora, que é o mais dentro de nós, expulso de nós por nós: estava em cristo.
não o cristo dos religiosos, dos cristãos, dos católicos, dos pentecostais, mas o cristo morto ressuscitado, o cristo dos passos das paixões, o que morreu pra salvar, e ressuscitou salvando-nos; um cristo anarquista, órfico, dionisíaco, que esconjurou o mal, oferecendo a própria face, como deus caído, por isso mais deus que nunca, porque mais mortal, porque mais vulnerável, porque mais vital.
cristo tirou a fome dos estômagos do mundo pra transferi-la pros estômagos dos vírus, das bactérias e dos vermes. tirou o alimento dessas pestes, matando seus narcisos, os das pestes, que também são nossos.
sua ressurreição é o paraíso que importa, o paraíso da transmigração das almas e dos corpos, sexuais, de um gozo que não é nosso, e mais o é, sendo do estranho, do estrangeiro, do exilado, do perdido, do faminto, do injustiçado, por isso o pobre é o próprio cristo e, ao oferecer a sua outra face pro rico, este dá a sua porrada de vírus, de bactérias e de vermes, em cristo, em cristo, em cristo, no pobre.
ao pobre não cabe não oferecer a face, não dizer sim nem não, mas matar seus narcisos, os dos ricos em si, o que ele já faz, em si, sendo mortalmente pobre, ressuscitando no terceiro dia, na terceira margem, a dos passos da paixão, o do devir, do a-caminho de, cuja trilha nos propõe simplesmente esquecer que o mal existe, que o rico existe, que o dinheiro existe, que a morte existe, que deus existe, que o homem existe, que a lei existe, que o certo e o errado existem, e fazer-se como alimento, num ritual tribal e canibalístico, do africano, da mulher, do rapaz que, neste momento, está no sinal da avenida afonso pena, ou uma outra qualquer, a, debaixo de chuva, vender sua bala barata pra adoçar a boca, já cheia de doces, de um chevrolet, de um ford, de um importado, com sua amarga boca de fome, é um real.
depois, a receita contra o mal, é necessário oferecer tudo isso, a fórmula alquímica de um qualquer, mas não em forma de esmola, aos mesmos e iguais, aos bem sucedidos de todos os lugares, ao outro lado de nossos cheios, de nossos narcisos, à fome insaciável em nossa barriga cheia, à frustração inscrita em nossas alegrias hipócritas, ao, enfim, vazio ou brechas ou nódoas de nossas muitas gorduras, da minha, que ainda escrevo, e no lugar do cheio de narcisos em mim, fazer-me ocupar por essas aberturas marítimas, ondas que sou, a incorporar, a escrever, as energias libidinais de outras formas de ser e de estar, revolucionárias, impróprias, impossíveis, vivas.
Comentários
vi pela TV Universitária, um pessoal ecossocialista aqui em Pernambuco.Conheces?
O site é:
http://mespe2011.ning.com/
Confira e me diga alguma coisa.
Abraço fraterno.
Obrigada poeta por me visitar sempre e transmitir tão bom astral, como digo sempre, "da vida só se leva a vida que se leva" nem sei de que é esse verso, rsss!
Bjão pra vc e p/ Raissa!
Gena
Saudações amigas, gostei de aqui passar