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oprimido


os lixos da história
este poema e tantos outros
os lixos da história
de traição e de dominação,
são crimes sanguinários
artes assa-cínicas
os lixos da história,
os saberes, os dizeres e os quereres,
e não os lixos, os despojos de nojos,
mas as oficialidades, os rituais, as boas maneiras
o belo amor, a paternidade, o ser médico, presidente
professor, potente ou carente, com dente ou sem dente
a minha vidinha besta, as prestações, o eu ser hetero
ou gay, negro ou branco, criança ou adulto, mulher ou homem,
pobre ou rico, ocidental ou oriental, crente ou descrente,
os lixos da história, a liberdade, a igualdade, a fraternidade,
o primeiro colocado seja lá no que for
e também o último, e também o nem um nem outro
os lixos da história,
o moralista e o imoralista,
o utopista ou o niilista
o opressor e o oprimido
o caçador e o caçado
o patrimônio material e simbólico
a alta e a baixa culturas
os lixos da história
a imparcialidade e a parcialidade
a seriedade e a sua falta,
o corrupto e o honesto
o competente e o incompetente
o pré-moderno, o moderno e o pós-moderno
o agrário, o industrial e o pós-industrial
o alfabetizado e o analfabetizado,
os lixos da história
o humanista ou o misógino
o trabalhador formal e o informal
o pleno emprego e o desempregado

tudo é lixo da história
porque é lixo tudo que produzimos,
e que chamamos de cultura,
é lixo tudo o que designamos como bom
e o que chamamos de mal,
o limpo e o sujo,
o normal e o anormal,
tudo lixo da história,
todos nós, sem exceção,
sem exceção, ouviram,
ninguém nem nada escapam,
lixo, lixo e lixo
tudo é lixo, a generalidade,
da manada,
e a singularidade,
dos bem pensantes

tudo é lixo
enquanto existir
literal ou metafísicamente
o oprimimido






Comentários

Gisa disse…
Ritmo e contestação.
Gostei.
Um grande bj
Lícia Dalcin disse…
Não nego: que maior produto cultural há que o lixo? E concebê-lo, na estreiteza da moldura personae em que nos inserimos não querendo, mas devendo (a vida quando cisma não há que teimar, e o sabes) - também é - fatalmente - cultural. E - por nossa vadia e ordinária concepção de lixo - lixo.

Bj

Lícia
Caro amigo

Enquanto houver
um único
ser oprimido,
o nome humano
não caberá a
nossa espécie...


Que a alegria
faça folia
em teu coração.

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no outro lado do front vi a refração das alfabetizadas ciências deus meu vi o engenho e a arte longe dos barões bufônicos das prosódias divinizadas das seis entidades orquestradas como mísseis de calar dos modernos tempos antigos vi o inglês, o alemão, o francês, o italiano, o espanhol, o português vi ideologia humanista nas seis pirâmides escriturais nas bocas dos sacerdotes dos monastérios os latins ministeriais das sagradas letras dos poemas nos boquetes dos iniciados em palácios de elmos lambendo as glandes das poses das correções ortográficas engolindo as porras das sintaxes na ordem das concordâncias nominais engravidados pela garganta profunda dos espectros verbais vi o monumento à barbárie dos hexagramas das teogonias ocidentais vi a bíblia das traduções imperiais na patrística das metafísicas nas pontas do ceu da boca nas palavras dos seres angelicais vi no outro lado do front as girias dos analfabetos poemando os cristais nos banhos ilimitados dos mananciais despoluindo-se da

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