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poesia

nunca mais fazer poesia, é inútil. retifico, sempre fazer poesia, não é útil, começo no fim, a última, a poesia, fora da fila das ilusões de tudo quanto é + o mais gozar da morte, a ressurreição do menos, o rosto da miséria, a lepra de Aleijadinho, a dor alegre do sim no não, ao pão, ao arroz com feijão, na carne viva, a viver, na catinga da putrefação, seu sonho no nariz dos olhos da velha nova solidão, a de estar aqui, em qualquer chão, só, com a multidão,
acompanhando os fantasmas da comoção, o retorno da amplidão, da lentidão, dos passos famintos do coração, a impulsionar o sangue pelo corpo da alma da emoção da recusa, do esquecimento, da inclusão, semente enterrada, na exclusão da atenção, do olhar, da escuta, da fala, do banquete dos poucos, música no inferno, pela alegria de peles, em percussão, cérebros viscerais, em tesão, órgãos libidinais de ritmos, em ação, batuques acústicos da imaginação volátil de perfumes de dedos, de tatos, de atos, e de mãos, em ataduras de úmidas e duras matas púbicas, dança e canção, a poesia é inconsúltil, é inverossímil, é inocente, seu crime é inafiançável: o amor à sombra da sobra, dos felizes e bem sucedidos, assombração, poesia, louvação aos insensatos, triunfo eucarístico na sagração da tentação, milagre do pecado de trazer o todo dentro e o dentro todo fora, na marcação da inspiração e da expiração, de existir, de persistir, de resistir e de sentir, na respiração, flor, poesia, poros-olhos do corpo-mundo, ouvido-sensação, escutando, a boca, a língua, a saliva, os dentes, pulsão da provação, de lamber os sexos da manhã, a neblina de sua cerração, a confundir céu com terra, sono com vigília, sol com lua, no encontro dos sentidos, maquinação, beijo da possessão da razão da alucinação, iluminação, poesia, escuro pra luz da paixão, pisca-pisca, vozes em refração

Comentários

vieira calado disse…
Obrigado pelas suas palavras nos meus
blogs.

Um abraço.
Renata Bomfim disse…
Oi Luis, mais um belo poema, estás com a lira afinada!
Um abração e
uma boa semana
renatab
gaivota disse…
um poema, feito poesia para iniciar uma semana, já dentro da primavera...
beijinho
lula eurico disse…
Mestre Luis, mais uma raridade de tua lavra de garimpeiro da poesia.
Abraçamigo e parabéns pela filha!!!
Letícia disse…
E cá estou lendo texto de quem conhece a palavra. Palavra velha e sempre nova. Ouvindo Beatles, cai no seu texto e vou seguir os conselhos do Cortázar. Voltarei a ler esse texto - esse mesmo. Me abriu os poros que andam entupidos de palavras não ditas. Perfeito, Escritor. Bom demais ler sua obra.

E essa levo para o mundo dos sonhos...

"...a poesia é inconsúltil, é inverossímil, é inocente, seu crime é inafiançável..."

(Luis Eustáquio Soares)

Bjs Literários.
Letícia
Luciana Cecchini disse…
alucinante! estou tonta! desconcertada com essa bateria ritmada na palavra: belíssima poesia!!! Lindo, lindo!


Luci:)))
Anônimo disse…
poesia é alucinação, devaneio, desorganização mental,é o que não é,é o que podia ser,é o que ninguém quer,é pra ler e não entender
Ilaine disse…
Oi!

Maravilhoso o que você escreve.
Lindas palavras, combinadas e moldadas.

bj
Ilaine
Lyra disse…
Alucinante!
Adorei.
Até breve
Lyra disse…
"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso" - Bernardo Soares -

Adoro a maneira como escreves caro...amigo

Até breve

;O)
Saudações, mestre!

Texto impactante. Poesia pura, do início ao fim.

E o que falar desse naco?:
"poros-olhos do corpo-mundo"

Sem palavras, meu caro.
Nem querendo a poesia te foge. Nem querendo...

Grande abraço, meu camarada!

Germano
Aparece...
Ana Laura disse…
Bardo, bardo... O que dizer senão que você é poeta? De nome e de alma. Encantada com o seu lindo-lírico texto.

Obrigada pelo comentário/complemento.
Sim, medo e cólera são sentimentos que se fundem e se dissipam dentro de mim.

A primeira de muitas outras visitas.

Beijo.
Jacinta Dantas disse…
Rapaz!
quase perco o fôlego nesse ir e vir de mil palavras, sim, mil, porque as leio de um fôleto só, sem obedecer as vírgulas, seguindo o compasso do coração. E leio tudo e volto porque não li tudo...
E páro aqui no "milagre do pecado de trazer o todo dentro e o dentro todo fora, na marcação da inspiração e da expiração, de existir, de persistir".
Jana disse…
que coisa boa de ler, corridinho assim rs

beijos
Ana Guimarães disse…
"Nunca e "sempre" têm a mesma conotação.
A pergunta Pra que serve a poesia? já pode ser trocada para A quem serve a poesia? E a resposta, é claro/a: ao poeta - sobretudo para desnudá-lo.
Sigamos nus, sem vestes.
Beijos
Ana Laura disse…
Categórico como sempre né bardo?!

Vou te chamar assim, se importa?


Um beijo e muito obrigada pela presença e comentário.
Letícia disse…
"Nunca mais fazer poesia, é inútil."

(Luis Eustáquio Soares)

E já estou na terceira leitura de seu texto. A cada leitura, lembro das teorias vistas em sala de aula e das vezes em que olhei pela janela e pensei que deveria haver algo mais que aquilo. Algo mais que analisar os Irmãos Campos e a Adélia Prado. Seu texto me prova isso a cada passar de leituras.

Bjs, Luis e caso possa, postei um texto sobre poesia. Me intrometi no mundo das palavras e creio já ter me viciado. Caso tenha tempo, gostaria de ter a honra de ler sua palavra. Uma crítica feita por vc - alguém que sabe e conhece o caminho das Letras.

Letícia Palmeira
Calebe disse…
Metalingüística, hein? - e, claro, um tanto mais.

A você sim cabe a palavra "Poeta". Inscrevo virtualmente essa afirmação.

Tenho muitas coisas a dizer sobre esse poema que não "respeita" a prosa, dela se utilizando para cantar a si próprio - e tantas outras coisas como é fato.

Uma vontade grande de imprimi-lo agora, para lê-lo com calma, aprendendo (porque esse poema é uma lição de poesia - e não me venha dizer: imaginação sua) e apreendendo o que ele oferece de novas (e de antigas, mas mais apuradas) sensações.

Seria muita insolência da minha parte pedir que me enviasse esse poema por e-mail para lê-lo?

Estou digitando aquele conto do Mario Sabino para que você relacione com o comentário que fiz outro dia.

Deixo meu e-mail, sendo um insolente sem medida, poeta. Se não incomodá-lo, envie-me por gentileza. Lá vai: calebe.morais@yahoo.com.br

E,sim, mais um pedido, agradeça a sua pequena por mim (pela visita e comentários que ela fez à Abstraktus). Logo aparecerei na página dela para comentar (diga-lhe também que já li algumas receitas e poemas lá postados).

E, para terminar, como Trapo, do Cristovão Tezza, diria: "A poesia é uma vagabunda".

Abração,

Calebe
vieira calado disse…
Um belíssimo texto, meu amigo!
Já agora convido-o eu a visitar o meu blog de poesia.
Um abraço.
Unknown disse…
Belas palavras! como sempre intenso...

beijão, de la Mancha
Dauri Batisti disse…
Essa torrente de palavras corre assim como um riacho pra que cada um recolha a água que lhe mate a sede.
layla lauar disse…
Poeta, tantas palavras, belas palavras e eu sem nenhuma que possa expressar como gostei dessa leitura.

Admiro, por demais,a originalidade a beleza e sonoridade dos seus escritos...

beijo
Raquel disse…
Poesia é verdadeiramente uma alunição deliciosa!
Beijos
http://sex-appeal.zip.net
http://cara-nova.zip.net
Joice Worm disse…
Esta forma especial de escrever me lembra o José Saramago em Ensaio sobre a cegueira.
Você escreve muito bem Luís. Já vejo a preciosidade de talento que terá sua filha. Um beijo grande da Joice.
Anônimo disse…
Oi Luís, poeta-punheteiro-violeiro-buceteiro, entre cirandas, dentro-fora, gozando sem gozar, cantando a faina que brota do seu coração. Espero que vc esteja bem,no fio da navalha, perto do mar, longe da cruz.

Um abraço do seu poeta de fim de semana, embusteiro de imagens, cornocópio de si mesmo.

Beijos na ponta do seu pintinho amarelinho....

Marco

obs: Estes dias me peguei pensando em vc quando assistia televisão (a minisérie global "queridos amigos"). O engraçado é que teve uma uma cena, um momento, e que vc apareceu por inteiro, com seus afectos, sua verborragia, seu sentimento de sempre é necessário "romper"..."romper sempre"..

saudades eternas.....
Anônimo disse…
salve luís, poeta-punheteiro-violeiro de cirandas, gozando sem gozar,espalhando a emoção de sua faina através do verbo que se fez carne e espírito, urnina e vinho, vagidos de esperança.

estes dias me lembrei de vc assistindo televisão (a minissérie queridos amigos da globo). hHavia uma cena, um momento, no qual vc aparecia por inteiro dizendo...é preciso romper..."romper sempre".

Um beijo na pointinha do seu pintinho amarelinho!


saudades eternas,
Priscila Lopes disse…
Bah... tem ritmo; bom para uma leitura em voz alta!

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